quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

A IMACULADA CONCEIÇÃO DE NOSSA SENHORA EXPLICADA POR SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO | Parte 1 - Convinha ao Pai

Iremos postar trechos de uma das obras de Santo Afonso Maria de Ligório chamada “Glórias de Maria”. Postaremos especificamente a parte em que o santo faz uma bela explicação sobre a Imaculada Conceição da Virgem Maria. (Lembrando que a Imaculada Conceição da Virgem Maria é dogma da Igreja proclamado pelo Papa Pio IX em 8 de dezembro de 1854)


***


Quanto convinha às três pessoas divinas preservar Maria da culpa original

Incalculável foi a ruína que o maldito pecado causou a Adão e a todo o gênero humano. Perdendo então miseravelmente a graça de Deus, com ela perdeu também todos os outros bens que no começo o enriqueciam. Sobre si e seus descendentes ao lado da cólera divina, atraiu uma multidão de males. Dessa comum desventura quis Deus, entretanto, eximir a Virgem bendita. Destinara-a para ser Mãe do segundo Adão, Jesus Cristo, o qual devia reparar o infortúnio causado pelo primeiro. Ora, vejamos quanto convinha às Três Pessoas preservar Maria da culpa primitiva. E isso por ser ela Filha de Deus Pai, Mãe de Deus Filho e Esposa de Deus Espírito Santo.
PONTO PRIMEIRO
Convinha ao Pai Eterno isentar da culpa original a Maria
1.É Maria a filha primogênita do Pai Eterno
Declara-o ela própria com as palavras do Eclesiástico: “Eu saí da boca do Altíssimo, a primogênita antes de todas as criaturas” (24,5)

Os sagrados intérpretes e os Santos Padres aplicam-lhe esse texto, e a própria Igreja dele se serve na festa da Imaculada Conceição.

Com efeito, é Maria a primogênita de Deus por ter sido predestinada juntamente com o Filho nos decretos divinos, antes de todas as criaturas. Assim o ensina a escola dos escotistas. Ou então é a primogênita, depois da previsão do pecado, como quer a escola dos Tomistas. São acordes, porém, uns e outros em chamá-la primogênita do Senhor. Sendo assim, era sumamente conveniente que Maria sequer um instante fosse escrava de L[ucifer, mas pertencesse sempre e unicamente a seu Criador.

Tal se deu em realidade, conforme as palaras da Virgem: “O Senhor me possuiu no princípio de seus caminhos” (Pr 8,22). Com razão, pois, lhe dá Dionísio, Arcebispo de Alexandria, o título de única e exclusiva Filha da vida, diferente das outras mulheres, que , nascendo em pecado, são filhas da morte. Criá-la em graça bem convinha, portanto, ao Pai Eterno.

2.A missão de reparadora do mundo perdido e de medianeira entre Deus e os homens apresenta o segundo motivo para a preservação da Virgem Maria
Assim a chamam os Santos Padres, especialmente S. João Damasceno, que diz: Ó Virgem bendita, nascestes para servir à salvação de toda a terra. Por isso, na opinião de S. Bernardo, foi a arca de Noé uma figura de Maria. Naquela fora livres os homens do dilúvio, tal como por Maria somos salvos do naufrágio do pecado. Há somente a seguinte diferença: por meio de Maria foi todo o gênero humano libertado. Daí o chamar-lhe o Pseudo-Atanásio “nova Eva, mãe dos vivos”. Nova Eva porque a primeira foi mãe da morte, mas a Virgem Santíssima é a Mãe da vida. S. Teófilo, Bispo de Niceia, diz À Senhora a mesma saudação: Eu vos saúdo, porque tiraste o luto no qual Eva nos amortalhou. S. Basílio nela saída a reconciliadora dos homens com Deus; S. Efrém, a pacificadora do mundo universo.

Ora é inconveniente que o intermediário da paz seja inimigo do ofendido, ou, pior ainda, que seja cúplice do mesmo delito. Para aplacar um juiz,não se lhe pode mandar um seu inimigo, observa Gregório Magno. Este, em vez de o aplacar, miais o irritaria. Entretanto, Maria tinha de ser medianeira de paz entre Deus e os homens. Logo, absolutamente não podia aparecer como pecadora e inimiga de Deus, mas só como sua amiga toda imaculada. Mais um motivo reclamou que Deus preservasse Maria da culpa original.

3.Sua missão de vencedora da serpente infernal
Seduzindo esta a nossos primeiros pais, trouxera a morte a todos os homens. O Senhor por isso lhe predissera: Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a descendência dela (Gn 3,15). Ora, Maria devia ser a mulher forte, posta no mundo para vencer a Lúcifer. Não convinha certamente, então, que a princípio houvesse sido subjugada e escravizada por ele. Era, pelo contrário, mas razoável que permanecesse livre sempre de toda mácula e de toda sujeição ao inimigo. Esse espírito mau buscou sem dúvida, infeccionar a alma puríssima da Virgem, como infeccionado já havia com seu veneno a todo o gênero humano. Mas, louvado seja Deus! O Senhor a preveniu com tanta graça, que ficou livre de toda mancha do pecado. E dessa maneira pôde a Senhora abater e confundir a soberba do inimigo como declara S. Agostinho, ou quem quer que seja o autor do Comércio do Gênesis.

Sobretudo um motivo levou o Eterno Pai a tornar ilesa do pecado de Adão a esta sua Filha. Ei-lo:

4.A eleição dessa Virgem para Mãe de seu Filho unigênito
Assim fala S. Bernardo à Senhora: Antes de toda criatura fostes destinada na mente de Deus para Mãe do Homem-Deus. Se não por outro motivo, pois ao menos pela honra de seu Filho que é Deus, era necessário que o Pai Eterno a criasse pura de toda macha. Escreve S. Tomás: Devem ser santas e limpas todas as coisas destinadas para Deus. Por isso Dav, ao traçar o plano do templo de Jerusalém com a magnificência digna do Senhor, exclamou: Não se prepara a morada para algum homem, mas para Deus (1Cr 29,1). Ora, o soberano Criador havia destinado Maria para Mãe de seu próprio Filho. Não devia, então, lhe adornar a alma com todas as mais belas prendas, tornando-a digna habitação de um Deus? Afirma o Beato Dionísio Cartuxo: O divino artífice do universo queria preparar para seu Filho uma digna habitação, e por isso ornou a Maria com as mais encantadoras graças. Dessa verdade assegura-nos a própria Igreja. Na oração depois da Salve Rainha, atesta que Deus preparou o corpo e a alma da Santíssima Virgem, para serem na terra digna habitação de seu Unigênito.

Como é sabido, a primeira glória para os filhos é nascer de pais nobres. “A glória dos filhos (são) os seus pais” (Pr 17,6).

Por isso, na sociedade menos mortifica passar por pobre e pouco formado, do que ser tido por vil de nascença. Pos com sua indústria pode o pobre enriquecer, e o ignorânte fazer-se douto com seus estudos. Mas quem nasce vil, dificilmente pode nobilitar-se, ainda que o consiga, está exposto a ver quem lhe atirem em rosto a baixeza de sua origem. Deus, entretanto, podia dar a seu Filho uma Mãe nobilíssima e ilibada da culpa original. Como então admitir que lhe tenha dado uma manchada pelo pecado? Como dar a Lúcifer o ensejo de exprobrar ao Filho de Deus a vergonha de ter nascido de uma Mãe que outrora fora escrava sua e inimiga de deus? Não; o Senhor não lho permitiu. Proveu à honra de seu Filho, fazendo com que Maria fosse sempre imaculada. Assim a fez digna Mãe de tal Filho, como testemunha a Igreja Oriental.

Dom algum jamais concedido a alguma criatura, do qual não fosse enriquecida também a Virgem. É este um axioma comum entre os teólogos. Para confirmá-los eis as palavras de S. Bernardo: O que a poucos mortais foi concedido, não ficou sonegado À excelsa Virgem; nem sombra de dúvida pode haver nisso. S. Tomás de Vilanova assim depõe: Nenhuma graça foi concedida aos santos, sem que Maria a possuísse desde o começo em sua plenitude. Há, porém, entre a Mãe de Deus e os servos de Deus uma infinita distância, segundo a célebre sentença de S. João Damasceno. Logo, à sua Mãe terá Deus conferido privilégios de graças, em todo sentido maiores de quantos outorgou a seus servos. Forçosamente assim teremos de concluir com S. Tomás. Isto suposto, pergunta S. Anselmo – o grande defensor da Imaculada Conceição: - Faltaria poder à Sabedoria divina para preparar a seu Folho uma morada pura e para preservá-la da mancha do gênero humano? Pois, continua o Santo, Deus, que pôde eximir os anjos de céu da ruínade tantos outros, não teria podido preservar a Mãe de seu Filho, a Rainha dos anjos, da queda comum aos homens? E acrescento eu: Deus, que pôde conceder a Eva a graça de vir ao mundo imaculada, não teria podido concedê-la também a Maria?


Ah! certamente que sim! Deus podia fazê-lo, e assim o fez. Diz, por isso, S. Anselmo: A Virgem, a quem Deus resolveu dar seu Filho Único, tinha de brilhar numa pureza que ofuscasse a de todos os anjos e de todos os homens, e que fosse a maior imaginável possível, abaixo de Deus. Por todos os motivos, era isso conveniente S. João Damasceno exprime o mesmo pensamento com mais clareza: “O Senhor a conservou tão pura no corpo e na alma, como realmente convinha àquela que iria conceber a Deus em seu seio. Pos santo como ele é, procura morar só entre os santos. Portanto, o Eterno Pai podia dizer a esta filha: Como o lírio entre os espinhos, és tu, minha amiga, entre as filhas (Ct 2,2): Pois, enquanto as outras foram manchadas pelo pecado, tu fostes sempre imaculada e cheia de graça.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Uma reflexão sobre a Co-Redenção da SS Virgem Maria


A Virgem Maria sofreu demasiadamente durante toda a vida, de maneira singular junto a Cristo no Calvário. Mas Ela consentiu em tudo, pois em tudo Ela procurava fazer a vontade do Pai. Nossa Senhora compreendeu de maneira perfeita aquilo que nos ensina o Padre Paulo Ricardo “no Céu o amor se chama glória, mas na terra o amor se chama cruz”. E Ela muito amou; Ela muito sofreu.

Sua vontade estava de maneira tão indivisa e unida a vontade do Pai, que Ela mesma teria morrido na Cruz se esta fosse a vontade do Pai. E Ela sabendo que a vontade do Pai era que Seu Filho morresse por nós, faria de tudo para que se cumprisse a vontade do Pai, mesmo que essa vontade dilacerasse Seu Imaculado Coração. Por isso vão nos ensinar os santos da Igreja que Nossa Senhora se faria uma escada para Cristo subir até a Cruz se esta fosse a vontade do Pai.

Vale lembrar que nas visões da Beata Anna Catarina Emerich contemplamos a Santíssima Virgem pedindo interiormente a Jesus que a deixasse morrer com Ele. Ele concedeu a morte deixando-a viva, portanto, fazendo-a sofrer mais do que se a deixasse morrer. Eis o sofrimento de reparação que também nos gerou. Cristo nos deu a Ela como filhos, e Ela à nós como Mãe, e tudo isso porque Ela nos gerou em seu ventre. Quando Cristo disse as santas palavras, foi como o Anjo que lhe anunciara outrora que seria a Mãe de Deus; e quando Cristo morreu e a lança Lhe abriu o lado, fazendo jorrar Sangue e Água, fazendo a Virgem ser também transpassada de dor, fomos gerados pelas dores de Maria.

Para melhor compreender, imagine Cristo morto na Cruz. Imagine Nossa Senhora olhando para o Seu Amado agora sem vida. Ela olhando a carne de sua carne, só que sem vida; o sangue de seu sangue, escorrido na cruz e entrando na terra. Imagine a Virgem já transpassada de dor, vendo o soldado Romano pegando a lança e abrindo o lado de Cristo. Imagine a cena... Para melhor compreendermos, recorrerei mais uma vez às visões da Beata Anna Catharinna Emerich:

Quando ergueram a mais amorosa, a mais desolada das mães, dirigindo os olhos à cruz, ela viu o corpo do Filho adorado, concebido na virgindade, por obra e graça do Espírito Santo, carne de sua carne, osso de seus ossos, coração de seu coração, vaso sagrado formado no seu seio pela virtude divina, agora privado de toda a beleza e formosura, separado da alma santíssima, entregue às leis da natureza que Ele próprio criara e de que os homens tinham abusado pelo pecado, desfigurando-a; viu o corpo do Filho Unigênito esmagado, maltratado, desfigurado, morto pelas mãos daqueles que viera salvar e vivificar. Ai! O vaso de toda beleza e verdade, de todo amor, pendia da cruz, entre dois assassinos, vazio, rejeitado, desprezado, insultado, semelhante a um leproso. Quem pode compreender toda a dor da Mãe de Jesus, rainha de todos os mártires?”

Agora leiam a impressionante narração que nos faz a mesma Beata das visões que teve do exato momento que transpassaram o Coração de Jesus:

Parando assim entre a cruz do bom ladrão e a de Jesus, ao lado direito do corpo de Nosso Salvador, tomou a lança com ambas as mãos e introduziu-a com tal força no lado direito do Santo Corpo, através das entranhas e do coração, que a ponta da lança saiu um pouco do lado esquerdo, abrindo uma pequena ferida. Quando tirou depois com força a santa lança, brotou da larga chaga do lado direito do Redentor um rio de sangue e água que, caindo, banhou o rosto de Cássio, como uma onda de salvação e graça. Ele saltou do cavalo e, prostrando-se de joelhos, bateu no peito e confessou a fé em Jesus em alta voz, diante de todos os presentes.
A Santíssima Virgem e os outros, cujos olhos estavam sempre fixos no Salvador, viram a súbita ação do oficial com grande angústia e acompanharam o golpe da lança com um grito de dor, precipitando-se para a cruz. Maria caiu nos braços das amigas, como se a lança lhe tivesse transpassado o próprio coração e sentisse o ferro cortante atravessá-Lo de lado a lado.” (grifo meu)

Neste momento se cumpre a profecia de Simeão no Templo: “E uma espada transpassará a tua alma” (Lc 2,35). E de fato a espada transpassou Sua alma. Cristo já estava morto, portanto, quem sentiu as dores da lança que abriu o Coração de Jesus foi Nossa Senhora. É tão impossível de separar Jesus de Maria que quando Cristo expira, a Paixão continua sendo sofrida e vivida pela Mãe. Que belo amor! Quem poderá compreender?

Sabemos que uma graça requer sacrifícios. Uma pregação, por exemplo, obterá seu efeito se tiver sacrifícios - orações, jejum, rosários, penitências, etc. -, claro que cada um de acordo com suas capacidades e com o chamado pessoal que o Senhor faz. Por isso, diante da graça e do milagre do Sangue e da Água que saíram do Coração de Jesus, foi necessário o sacrifício da puríssima Virgem.

E se nos adiantarmos um momento na narrativa da Paixão do Senhor, e contemplarmos a 6º grande espada de dor da Virgem Maria, que é receber o Corpo de Jesus já todo flagelado, transpassado pela lança, sem vida, em seus braços, podemos ver que a Virgem Maria passa a ser a Mãe da Misericórdia verdadeiramente. Medite nesta cena. Veja uma imagem de Nossa Senhora da Piedade, recorra ao filme da Paixão de Cristo, ou alguma imagem, e veja a Virgem dolorosa do Calvário segurando o Corpo de Cristo já sem vida, e contemple que a humanidade continua olhando nos olhos de Deus, pelo olhar da Virgem. A humanidade continua contemplando a Misericórdia de Cristo, pelo olhar da Virgem.


É através do olhar de Nossa Senhora, que são janelas pelas quais passa a luz da verdade, que podemos contemplar a Misericórdia de Deus. Sim, por este doce olhar, cheio de lágrimas de sangue e dor por ver Seu Filho morto de forma tão cruel, comove e converte quem a ele contempla.


(Fragmento de uma obra que ainda pretende-se publicar sobre a Co-Redenção de Nossa Senhora)