segunda-feira, 11 de maio de 2015

Aparições do Anjo de Portugal aos pastorinhos de Fátima

Alguns momentos havia que jogávamos, e eis que um vento forte sacode as árvores e faz-nos levantar a vista para ver o que se passava, pois o dia estava sereno. Vemos, então, que sobre o olival se encaminha para nós a tal figura de que já falei. A Jacinta e o Francisco ainda nunca a tinham visto, nem eu lhes havia falado nela. À maneira que se aproximava, íamos divisando as feições: Um jovem dos seus 14 a 15 anos, mais branco que se fora de neve, que o sol tornava transparente como se fora de cristal, e duma grande beleza. Ao chegar junto de nós, disse:

Não temais! Sou o Anjo da Paz. Orai comigo. E, ajoelhando em terra, curvou a fronte até ao chão, e fez-nos repetir, três vezes, estas palavras: “Meu Deus! Eu creio, adoro, espero e amo-Vos! Peço-Vos perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e Vos não amam”. Depois, erguendo-se, disse: “Orai assim. Os corações de Jesus e Maria estão atentos à voz das vossas súplicas.” As suas palavras gravaram-se de tal forma na nossa mente, que jamais nos esqueceram. E, desde aí, passávamos largo tempo, assim prostrados, repetindo-as, às vezes, até cair, cansados. Recomendei logo que era preciso guardar segredo e, desta vez, graças a Deus, fizeram-me a vontade.

Passado bastante tempo, num dia de verão, em que havíamos ido passar a sesta a casa, brincávamos em cima dum poço que tinham meus pais no quintal, a que chamávamos o Arneiro. (No escrito sobre a Jacinta, também já falei a V. Ex.ª deste poço). De repente, vemos junto de nós a mesma figura, ou o Anjo, como me parece que era, e diz: 

- Que fazeis?! Orai, orai muito! Os corações Santíssimos de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia. Oferecei constantemente, ao Altíssimo, orações e sacrifícios. 

- Como nos havemos de sacrificar?, - perguntei.
De tudo que puderes, oferecei a Deus sacrifício, em acto de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido, e súplica pela conversão dos pecadores. Atraí assim, sobre a vossa Pátria, a paz. Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal. Sobretudo, aceitai e suportai, com submissão, o sofrimento que o Senhor vos enviar.

Passou-se bastante tempo, e fomos pastorear os nossos rebanhos para uma propriedade de meus pais, que fica na encosta do já mencionado monte, um pouco mais acima dos Valinhos. É um olival a que chamávamos Prègueira. Depois de termos merendado, combinávamos ir rezar na gruta, que ficava no outro lado do monte. Demos para isso, uma volta pela encosta, e tivemos que subir uns rochedos que ficam ao cimo da Prègueira. As ovelhas conseguiram passar com muita dificuldade.

Logo que aí chegamos, de joelhos, com os rostos em terra, começamos a repetir a oração do Anjo: “Meu Deus! Eu creio, adoro, espero e amo-Vos, etc.”. Não sei quantas vezes tínhamos repetido esta oração, quando vemos que sobre nós brilha uma luz desconhecida. Erguemo-nos para ver o que se passava, e vemos o Anjo, tendo na mão esquerda um cálix, sobre o qual está suspensa uma Hóstia, da qual caem algumas gotas de sangue dentro do cálix. O Anjo deixa suspenso no ar o cálix, ajoelha junto de nós, e faz-nos repetir, três vezes:

- “Santíssima Trindade, - Pai, Filho e Espírito Santo, - ofereço-Vos o Preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrages, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E, pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores”. Depois, levanta-se, toma em suas mãos o cálix e a Hóstia. Dá-me a Sagrada Hóstia a mim, e o Sangue do cálix dividiu-O pela Jacinta e o Francisco, dizendo, ao mesmo tempo: “Tomai e bebei o Corpo e Sangue de Jesus Cristo, horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos! Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus”. E, prostrando-se de novo em terra, repetiu conosco, outras três vezes, a mesma oração: “Santíssima Trindade... etc.,” e desapareceu. Nós permanecemos na mesma atitude, repetindo sempre as mesmas palavras; e, quando nos erguemos, vimos que era noite e, por isso, horas de virmos para casa.

(Escrito de Irmã Lúcia, vidente de Fátima. Retirado do Livro: O Segredo de Fátima, Edições Loyola, páginas 46 à 48.)
(Grifos meu. Com adaptações)

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